segunda-feira, 2 de maio de 2011

Meu Barracão - Ante Projeto


"Feliz, eu vivo no morro
morando em meu barracão
vejo melhor o luar
e as estrelas brilham na constelação
mas como é linda uma noite de verão"
Feliz Eu Vivo no Morro [Chatim, Josias e Pernanbuco]

O sonho maior do brasileiro é o sonho da casa própria. Como é bom sabermos que temos um lugar no mundo só nosso, onde podemos nos repousar traquilamente e sermos abrigados e protegidos do mundo lá fora. É nessa esperança que os morros do Rio de Janeiro foram ocupados, é nesta esperança que nosso samba foi criado. O homem deseja somente ter um abrigo, seja de palha, de ouro ou de zinco. Para ele, tanto faz, sendo dele. Mas para nós arquitetos não, uma habitação tem que ser digna do usuário que ela acolhe. Deve satisfazer suas vontades e suas necessidades. Abrigar não significa somente envolver. Tem que envolver com segurança, qualidade e conforto. E não é frescura de arquiteto pensar que deva ser assim. É pensar que o tempo das cavernas já ficou pra trás. E depois de muito evoluir, ainda nos deparamos com situações absurdas onde pessoas moram em encostas de barrancos prestes da deslizar na primeira chuva de verão. E o pior de tudo, quando são destinados conjunto de casas para essa população que não possui a condição de comprar por si seu próprio pedacinho de mundo, e com a ajuda do governo ganha um empurrão para realizar tal sonho, muitas vezes este acaba se tornando um pesadelo.
É assim que deve-se enxergar o programa Minha Casa, Minha Vida. Na teoria é lindo, mas quando passa pra parte prática, vira desilusão. Um casa mal construída, de longevidade reduzida e onde as pessoas são obrigadas a se adequar, empurando o sofá um pouco pra lá porque não cabe na sala. A geladeira é muito grande e tampa parte da entrada da cozinha. São tantos problemas que nos faz lembrar do barracão de zinco e do nosso querido Mestre Chatim.
Devaneios a parte, é justamente isso que será tratado neste blog, como já iniciado. O objetivo é criar uma habitacão mais digna e que responda as necessidades das pessoas. Levando em consideração que as necessidades de um grupo familiar não é a mesma que de outro grupo. Levando em consideração que uma melhor escolha de materiais pode tanto baratear a obra como agilizá-la. Levando em consideração que o disperdício em obra faz parte da era passada. E finalmente, levando em consideração que tudo isso unido, gera uma habitação de qualidade, e digna de ser habitada por quem tanto por este país trabalha.
                                                                                                    
                                                                                                        Fabrício CaetanO.



O Barracão

O projeto Meu Barracão consiste em uma nova forma de se pensar e acima de tudo se habitar o espaço, fugindo da tradicional repartição tri partida francesa que tanto conhecemos. O mesmo espaço pode se readequar e sanar diferentes propósitos e necessidades, dependendo do momento. Flexibilidade não é somente colocar um painel móvel como parede que faça o espaço se abrir pro nada. Flexibilidade vai além, é a sobreposição de funções em um mesmo espaço, e quanto menor este espaço for, mais se goza de sua capacidade.

Além da flexibilidade, outro fator importante é a racionalidade da produção. A pergunta maior do projeto é: Como construir um edifício sem um usuário definido pra este? O que acontece nos programas governamentais é justamente isto, e acaba-se construindo uma residência que não atende às necessidades de seus moradores.

Após o estudo do APO apresentado no início do nosso trabalho, verificamos algumas características básicas que demonstram a insatisfação dos moradores de conjuntos habitacionais em relação às casas oferecidas pelo governo. Não problemas desde bainais à problemas grotescos. Infiltrações, telhas mal colocadas, trincas, perda do revestimento. E vemos também as primeiras modificações que assim que sobra um tostão, faz-se um puxadinho na varanda porque lavar roupas no sol mulher nenhuma merece. Um muro para dar ideia de segurança e privacidade.
Tais fatores de pós ocupação são importantíssimos para nosso projeto. O usuário, mesmo moldado no espaço, acha espaço para se intervir e mostrar que seu espaço não pode ser espaço de qualquer um. É seu! E é assim que pensamos, sendo assim, a proposta é bolar propostas que atendam o seu usuário.

Estudos Preliminares

Para realizar o projeto, foi feito um estudo de casos em flexibilidade espacial, racionalização construtiva de obra e coordenação modular de modo a repensar o modo como pensamos a arquitetura, como habitamos o espaço e como o construímos.

A flexibilidade não é uma parede que se move, um plano que se abre ou um espaço que se extende. Flexíbilidade também é um mesmo espaço que realiza diferentes funções sempre que requisitadas. Uma cama não precisa ocupar sempre um espaço horizontal no quarto. O mesmo vale para o sofá. Não é necessário interditar o vaso e a pia para se tomar um banho. Pra quê precisamos da mesa de jantar ocupando metade da cozinha quando estamos apenas dando banho nas crianças?

Quando falamos em construção, ainda a tratamos como a mesma tecnologia de séculos atrás em amassar e misturar cimento, areia, cau e água pra fazer uma mistura pastosa e acinzentada para colar blocos de barro queimado e depois quebrar tudo e simplesmente, jogar fora. A racionalização da obra tanto agiliza seu processo de produção quanto gera menos disperdício de material e de dinheiro para o construtor, além de ser melhor reaproveitado em futuras ampliações.

O módulo nos permita uma flexibilidade projetual em que os módulos são apenas lugares delimitados, onde se encaixa a cozinha, o quarto a sala ou quem sabe o banheiro. Tanto faz, o que importa é que se precisar aumentar ou modificar, é só mexer na modulação.


Enfim,


Explicado o contexto, mão na massa!




Materiais








Primeira Tentativa
Devido às dimensões da placa cimentícia (1,20x2,00 ; 1,20x2,40 ; 1,20x3,00m) é definida a modulação de 3,00x2,00m utilizando-se as placas na horizontal. 

Após a modulação, define-se 03 tipologias básicas de teste:

TIP 01: Pessoa sozinha
TIP 02: Casal sem filhos
TIP 03: Casal + 1 pessoa

Sendo assim, cria-se os ambientes a partir da modulação:







Depois da definição das tipologias e dos ambientes modulados, gera-se layouts testes para ver se o sistema funciona bem.



Após os testes de layout, aprofunda-se para as soluções técnicas:



Depois de feito, verifica-se a viabilidade da modulação, que no caso acima, não atendeu às necessidades. Assim, é pensada outra modulação.

Segunda Tentativa

A segunda tentativa é iniciada pelo levantamento dos aparelhos domésticos principais de uma casa.


Após os estudos, foi feito estudos de novos mobiliários flexiveis:





Assim, parte para a modulação de pequenos módulos de 60x60cm. Se antes o módulo definia o ambiente, agora o ambiente dita aproximadamente quantos módulos ele necessita:






Novamente, os Layouts são propostos:

TIP 01: Mangueira: 01 pessoa
TIP 02: Portela: 01 Casal sem filhos
TIP 03: Estácio: 01 Casal + 01 pessoa

  • MANGUEIRA
"Quem se muda pra Mangueira é verdade
Leva a vida cheia de felicidade
Quem se muda de Mangueira tem saudade
Votará ou mais cedo ou mais tarde"
[Quem se Muda pra Mangueira - Zé com Fome]

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LAYOUT NA MAQUETE ELETRÔNICA

VISTAS LATERAIS

PERSPECTIVA

CORTE EM PERSPECTIVA

PERSPECTIV 2

VISTA FRONTAL


  • PORTELA
"Se tu fores na Portela tu encontrarás
Alegria, tudo de bom amor
Ouvirás das  nossas poesias
E um turbilhão de melodias
Desaparecem tuas mágoas linda flor
Ora, vem comigo amor!"
[Se tu fores na Portela - Ariosto Ventura]


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  • ESTÁCIO
"Quem vem lá?
Quem ve lá é  o velho Estácio.
Quem vem lá?
Peso é peso e braço é braço.
Estácio escola primeira
Veio saudar a Portela
Cumprimentar a Mangueira"
[Quem Vem Lá - Bide e Marçal]

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